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As células do cérebro humano que podem destruí-lo

As células do cérebro humano que podem destruí-lo

Micróglias podem proteger ou danificar o cérebro, influenciando doenças como Alzheimer, vício, dor crônica e covid longa.

15 de outubro de 2024  •  11:10:26 AM

Micróglia e neurônio interagindo | Fonte: imagem gerada por IA.

Micróglias: pequenas, mas poderosas

O cérebro humano é composto por dois tipos principais de células: neurônios e células gliais

Dentro do grupo das gliais, encontra-se a Micróglia, um tipo de célula que representa cerca de 10% das células cerebrais. 

Embora pequenas, essas células desempenham um papel essencial na manutenção e defesa do cérebro. Elas “patrulham” constantemente o ambiente neural, garantindo que tudo funcione como deveria.

Para tanto, durante o desenvolvimento cerebral, as micróglias podam conexões neuronais desnecessárias, favorecendo o crescimento de sinapses eficientes. Além disso, reparam a mielina, camada que envolve e protege os neurônios. 

Quando essas células atuam corretamente, o cérebro se mantém saudável, livre de danos.

Quando a Micróglia se rebela

Entretanto, apesar de muito colaborarem para a saúde cerebral, as micróglias podem “se rebelar” em certas situações. 

Quando detectam um problema, como infecções ou placas amiloides associadas ao Alzheimer, elas entram em um estado hiper-reativo. Nesse momento, as micróglias liberam substâncias inflamatórias, aumentando a resposta imune no cérebro.

Infelizmente, quando a micróglia permanece nesse estado por muito tempo, os danos superam os benefícios. A ação pode acabar destruindo células saudáveis e contribuindo para o surgimento de doenças neurodegenerativas. 

Esse comportamento foi observado em condições como Alzheimer, vício em drogas e até mesmo dor crônica.

Alzheimer e o envelhecimento

Especificamente no caso do Alzheimer, a micróglia desempenha um papel ambíguo. 

Em estágios iniciais, estas células ajudam a eliminar as placas amiloides, que são tóxicas para os neurônios. No entanto, com o tempo, a exposição contínua a essas placas leva a uma resposta inflamatória crônica, que, por sua vez, prejudica ainda mais os neurônios.

O envelhecimento também contribui para o comportamento descontrolado dessas células. 

À medida que envelhecemos, a micróglia se torna mais propensa a reagir exageradamente a insultos menores, como infecções ou cirurgias. Com isso, pode-se explicar a piora cognitiva em idosos após procedimentos médicos.

Vício e o impacto no cérebro

O papel das micróglias no vício em drogas também é significativo. 

Estudos recentes mostram que substâncias como opiáceos, cocaína e metanfetamina ativam essas células. Dessa forma, a micróglia trata estas drogas como invasoras, liberando citocinas inflamatórias que aumentam a estimulação dos neurônios de recompensa.

Esse processo reforça as conexões entre os neurônios associados ao prazer, de modo que promove o aumento do desejo por drogas. 

Assim, a ação contínua das micróglias pode transformar o comportamento de busca por drogas em um hábito duradouro. 

Todavia, pesquisas com camundongos mostraram que bloquear essa ativação pode reduzir o vício, abrindo portas para tratamentos futuros.

Micróglias e a dor crônica

Outro campo de estudo relacionado às micróglias é o da dor crônica. 

Quando uma lesão ocorre, essas células são ativadas, liberando citocinas que sensibilizam os neurônios da dor. O prolongamento dessa sensibilização pode transformar uma dor temporária em um problema persistente.

Desse modo, bloquear a ativação das micróglias mostrou-se eficaz na redução da dor em estudos com animais. 

Tal descoberta sugere que novas terapias podem ser desenvolvidas para controlar condições como a fibromialgia ou dores neuropáticas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Perspectivas futuras

  • O estudo das micróglias ainda está em seus estágios iniciais, mas já oferece insights promissores para o tratamento de diversas condições neurológicas. 

  • Novos medicamentos estão sendo testados para ajudar essas células a desempenharem melhor suas funções, principalmente em doenças como Alzheimer. 

  • No campo do vício, uma possível abordagem envolve substituir micróglias rebeldes por células normais em regiões específicas do cérebro. No entanto, tal técnica seria altamente invasiva e difícil de implementar. Por isso, cientistas continuam buscando métodos menos agressivos e mais eficazes. 

  • Conforme a ciência avança, a compreensão do papel das micróglias no cérebro pode levar a descobertas revolucionárias no tratamento de doenças complexas. 

  • Portanto, essas pequenas células, antes negligenciadas, podem ser a chave para a saúde cerebral.

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